Chegamos ao São João, embora
esse ano não esteja sendo fácil pra ninguém.
Seca Verde: chove, mas não o
suficiente para juntar água nos açudes e reservatórios.
Mercado em recessão,
desemprego na porta, inadimplência a galope e vendas a passos de tartaruga.
Os Governantes numa cantiga
só: “Não vamos fazer São João por causa da Crise”.
Vai saber até que ponto isso é
verdade.
Acredito que o nosso Problema
é saber denominar que tipo de Crise estamos passando em específico nesse
Período Junino?
Seria só Crise Financeira?
Ou estamos enfrentando há anos
uma Crise Cultural?
É fato que serei taxado de
velho, careta, quadrado, ultrapassado, que usem os adjetivos que quiserem, mas
apenas um não me cabe: “Alienado”.
É no mínimo deprimente o que
vemos no Poder Público a ausência da “Meritocracia”, principalmente no que
tange a Cultura.
O senso de responsabilidade
nesse seguimento é o mínimo possível, quando não inexistente.
Na Cultura? Ah! Bota Fulano
mesmo, aqui ninguém liga pra Cultura.
Voltando pro São João, nada
mais atual do que a letra da Música do Imortal Rei do Baião, Luiz Gonzaga:
ALEGRIA DE PÉ DE SERRA
Em todo pé de serra tem
Um zabumbeiro, tem um
cantador} bis
Mesmo que seja ruim
Tocando um tantinho assim
Traz alegria a todo morador
Quem mora lá no pé da serra
Vive numa terra
Que a tristeza não passou
E seja noite, ou seja, dia
Se ver alegria em todo morador
Saudade do tempo em que íamos às
festas juninas, olhar pras meninas buscando coragem pra chama-las pra dançar,
dai em diante haja conversa pra arrancar um beijo e quem sabe um namoro.
E antes que me chamem de “Velho”,
além do Tradicional Forró, dançávamos ao som de Mastruz com Leite, Cavalo de
Pau, Eliane, Mel com Terra, Brucelose, e etc.
Existia poesia, letras,
significados e melodias.
Íamos à festa, dançar, beber,
conversar, paquerar e namorar.
O Salão era pra dançar, por
incrível que pareça.
Hoje é um Barulho infernal,
letras – se é que assim podemos chamar – Deus sabe de onde veio a inspiração,
na maioria delas exaltam a Bebida, a Irresponsabilidade, Promiscuidade e o Fugaz.
No Dance, quatro ou cinco “Filhos
de Deus”, fazem uma roda com um litro de bebida, uma bolsa de gelo e alguns
copos, nem dança e nem dá espaço a quem dança.
Quando toma coragem pra chamar a menina pra dançar tá quase
bêbado, papo que é bom: nada. A menina por sua vez, vai logo beijando e o resto
não precisa contar.
Outra coisa que dói é ver Escolas
Contratando DJs pra comemorar o seu São João.
Pelo amor de Deus – lá vai eu
levar o nome de Velho de novo – mas acho difícil você ir a um Halloween nos EUA
e ver como atração “Um Trio de Forró Pé de Serra”.
E por que é que temos que
Americanizar nossa Cultura?
É mais prático, concordo. Mas
praticidade nem sempre é saudável.
Daí vem aquele velho discurso:
“Mas o Povo mesmo não gosta de
Cultura, se contratar “Tal Atração”, ninguém vai gostar”.
Nessa hora faço uso das
palavras do Saudoso Capiba:
“Cachorro rói osso, porque
ninguém oferece Filé pra ele escolher, jogue o osso e o filé pra ver o que ele
vai escolher?”.
Cultura é a nossa Identidade.
Desculpe-me, mas Forró pelo
pouco que conheço - e modéstia parte, não é pouco – pra se ter uma ideia do
último levantamento que fiz em minha Discoteca, só de Forró Pé-de-Serra contei
mais de 100 CDs, é muito diferente do que vendem por Forró.
São João tá perdendo suas
características, as atrações muitas vezes podem ser classificadas por outros
gêneros, menos Forró.
Senhores Governantes contratem
Profissionais para Organizarem seus Eventos, peçam seu Currículo, observem onde
ele fez Curso de Produção de Eventos.
O Forró é chique, tá na moda e
vende bem, só os ignorantes é que não observam isso, agora é fato que
necessitasse um mínimo de inteligência, conteúdo e bom gosto pra entender o que
é Forró.
Agora se a questão for
simplesmente o dinheiro, ou melhor, dizendo o jogo de vantagem, ai pare de ler
esse texto, retiro tudo que disse, pois falamos línguas diferentes.
Não se vê mais um Côco de Roda
(que não é caro), um Fole de Oito Baixos, que em nossa cidade conta-se 03 ou 04
Tocadores de Oito Baixos, instrumento de difícil execução.
Vou ficando por aqui, mas no
que depender de mim, faço minha parte.
Forrozando mundo a fora, seja
com meu Amigo Nelson, Itamar, Rafael, Nando dos 08 Baixos, Sr Biu dos 08
Baixos.
Catando o pouco que aprendi:
Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Assisão, Xico Bezerra, Jorge
de Altinho, Petrúcio Amorim, Félix Porfírio, Maciel Melo, Irah Caldeira,
Marinês, Dominguinhos, Anastácia, Josildo Sá, Paulinho Leite ...
E porque não Mastruz Com
Leite, Mel com Terra, e etc.
Forró, Xote, Samba de Latada,
Xaxado, Baião, Coco de Roda, e etc.
Sou Joãoalfredense, Pernambucano,
Nordestino e Brasileiro, Matuto embora do Agreste, mas aprendi a gostar de tudo
isso, graça aos meus Pais, Amigos e Mestres e é assim que pretendo seguir,
ensinando aos meus sucessores.
Preservando a nossa Cultura.
Assim sou eu, Velho, Quadrado,
Fora de Época, Ultrapassado.
Mas ALIENADO, comprando o que
uma mídia de massa que quer empurrar de goela abaixo, bandas que são obrigados
a distribuir vários CDs gratuitamente, porque se for vender não vende.
Ah Nego Véi ai tá difícil.
Viva o São João!
Viva a Cultura!
E rezemos pelos alienados.