23 de jun. de 2015

Ai que Saudades que tenho, das noites de São João ...



Chegamos ao São João, embora esse ano não esteja sendo fácil pra ninguém.

Seca Verde: chove, mas não o suficiente para juntar água nos açudes e reservatórios.

Mercado em recessão, desemprego na porta, inadimplência a galope e vendas a passos de tartaruga.

Os Governantes numa cantiga só: “Não vamos fazer São João por causa da Crise”.

Vai saber até que ponto isso é verdade.

Acredito que o nosso Problema é saber denominar que tipo de Crise estamos passando em específico nesse Período Junino?

Seria só Crise Financeira?
Ou estamos enfrentando há anos uma Crise Cultural?

É fato que serei taxado de velho, careta, quadrado, ultrapassado, que usem os adjetivos que quiserem, mas apenas um não me cabe: “Alienado”.

É no mínimo deprimente o que vemos no Poder Público a ausência da “Meritocracia”, principalmente no que tange a Cultura.

O senso de responsabilidade nesse seguimento é o mínimo possível, quando não inexistente.

Na Cultura? Ah! Bota Fulano mesmo, aqui ninguém liga pra Cultura.

Voltando pro São João, nada mais atual do que a letra da Música do Imortal Rei do Baião, Luiz Gonzaga:

ALEGRIA DE PÉ DE SERRA

Em todo pé de serra tem
Um zabumbeiro, tem um cantador} bis
Mesmo que seja ruim
Tocando um tantinho assim
Traz alegria a todo morador

Quem mora lá no pé da serra
Vive numa terra
Que a tristeza não passou
E seja noite, ou seja, dia
Se ver alegria em todo morador

Saudade do tempo em que íamos às festas juninas, olhar pras meninas buscando coragem pra chama-las pra dançar, dai em diante haja conversa pra arrancar um beijo e quem sabe um namoro.

E antes que me chamem de “Velho”, além do Tradicional Forró, dançávamos ao som de Mastruz com Leite, Cavalo de Pau, Eliane, Mel com Terra, Brucelose, e etc.

Existia poesia, letras, significados e melodias.

Íamos à festa, dançar, beber, conversar, paquerar e namorar.

O Salão era pra dançar, por incrível que pareça.

Hoje é um Barulho infernal, letras – se é que assim podemos chamar – Deus sabe de onde veio a inspiração, na maioria delas exaltam a Bebida, a Irresponsabilidade, Promiscuidade e o Fugaz.

No Dance, quatro ou cinco “Filhos de Deus”, fazem uma roda com um litro de bebida, uma bolsa de gelo e alguns copos, nem dança e nem dá espaço a quem dança.

Quando toma coragem  pra chamar a menina pra dançar tá quase bêbado, papo que é bom: nada. A menina por sua vez, vai logo beijando e o resto não precisa contar.

Outra coisa que dói é ver Escolas Contratando DJs pra comemorar o seu São João.

Pelo amor de Deus – lá vai eu levar o nome de Velho de novo – mas acho difícil você ir a um Halloween nos EUA e ver como atração “Um Trio de Forró Pé de Serra”.

E por que é que temos que Americanizar nossa Cultura?

É mais prático, concordo. Mas praticidade nem sempre é saudável.

Daí vem aquele velho discurso:
“Mas o Povo mesmo não gosta de Cultura, se contratar “Tal Atração”, ninguém vai gostar”.

Nessa hora faço uso das palavras do Saudoso Capiba:
“Cachorro rói osso, porque ninguém oferece Filé pra ele escolher, jogue o osso e o filé pra ver o que ele vai escolher?”.

Cultura é a nossa Identidade.

Desculpe-me, mas Forró pelo pouco que conheço - e modéstia parte, não é pouco – pra se ter uma ideia do último levantamento que fiz em minha Discoteca, só de Forró Pé-de-Serra contei mais de 100 CDs, é muito diferente do que vendem por Forró.

São João tá perdendo suas características, as atrações muitas vezes podem ser classificadas por outros gêneros, menos Forró.

Senhores Governantes contratem Profissionais para Organizarem seus Eventos, peçam seu Currículo, observem onde ele fez Curso de Produção de Eventos.

O Forró é chique, tá na moda e vende bem, só os ignorantes é que não observam isso, agora é fato que necessitasse um mínimo de inteligência, conteúdo e bom gosto pra entender o que é Forró.

Agora se a questão for simplesmente o dinheiro, ou melhor, dizendo o jogo de vantagem, ai pare de ler esse texto, retiro tudo que disse, pois falamos línguas diferentes.

Não se vê mais um Côco de Roda (que não é caro), um Fole de Oito Baixos, que em nossa cidade conta-se 03 ou 04 Tocadores de Oito Baixos, instrumento de difícil execução.

Vou ficando por aqui, mas no que depender de mim, faço minha parte.

Forrozando mundo a fora, seja com meu Amigo Nelson, Itamar, Rafael, Nando dos 08 Baixos, Sr Biu dos 08 Baixos.

Catando o pouco que aprendi: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Assisão, Xico Bezerra, Jorge de Altinho, Petrúcio Amorim, Félix Porfírio, Maciel Melo, Irah Caldeira, Marinês, Dominguinhos, Anastácia, Josildo Sá, Paulinho Leite ...

E porque não Mastruz Com Leite, Mel com Terra, e etc.

Forró, Xote, Samba de Latada, Xaxado, Baião, Coco de Roda, e etc.

Sou Joãoalfredense, Pernambucano, Nordestino e Brasileiro, Matuto embora do Agreste, mas aprendi a gostar de tudo isso, graça aos meus Pais, Amigos e Mestres e é assim que pretendo seguir, ensinando aos meus sucessores.

Preservando a nossa Cultura.

Assim sou eu, Velho, Quadrado, Fora de Época, Ultrapassado.

Mas ALIENADO, comprando o que uma mídia de massa que quer empurrar de goela abaixo, bandas que são obrigados a distribuir vários CDs gratuitamente, porque se for vender não vende.

Ah Nego Véi ai tá difícil.

Viva o São João!
Viva a Cultura!
E rezemos pelos alienados.